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Dilma e seu
tripé de fantasia- Editorial O Estadão.
Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,dilma-e-seu-tripe-de-fantasia-,1086693,0.htm
consultado em: 18/10/2013 às 19h56.
Contra todos os fatos e
evidências bem conhecidos no Brasil e no exterior, a presidente Dilma Rousseff
negou haver abandonado o tripé da estabilidade econômica – as metas de
inflação, a busca do equilíbrio das contas públicas e o regime de câmbio
flutuante. Talvez a declaração, embora obviamente falsa, tenha sido feita de
boa-fé, por desconhecimento do sentido próprio das palavras e dos fatos.
Segundo a presidente, a
inflação tem ficado na meta e está sob controle, assim como as contas públicas.
Só pessoas extremamente desinformadas poderiam levar a sério esse discurso.
A presidente abusa das palavras
– talvez por inocência, convém admitir – ao falar sobre a inflação sob controle
e “dentro da meta”. A meta é obviamente 4,5% e é esse o conceito usado pelo
Banco Central (BC). A margem de dois pontos para mais ou para menos é apenas um
espaço de tolerância, para ser usado em circunstâncias excepcionais. A inflação
nunca esteve na meta, na gestão da presidente Dilma Rousseff, e ficará longe
desse ponto ainda por uns dois anos, segundo projeções das autoridades
monetárias.
Classificar como “sob controle”
uma inflação anual na faixa de 5,8% a 6% ou é um sinal de absoluta
desinformação ou configura uma tentativa bisonha de enfeitar um cenário muito
feio. Não é fácil de escolher uma das duas possíveis explicações.
A defesa da política fiscal é
igualmente inepta e chega a ser quase cômica. Os resultados fiscais, muito
magros e cada vez piores, só têm sido alcançados com a participação crescente
de dividendos pagos por estatais e com o recurso a truques contábeis conhecidos
no Brasil e no exterior. Neste ano, prêmios pagos por empresas interessadas na
exploração do pré-sal devem fortalecer o caixa do governo. Há meses a equipe
econômica vem listando essa receita em suas projeções, numa demonstração de
quase desespero diante da piora constante das contas públicas.
Além disso, mesmo os pífios
resultados fiscais só têm sido apresentados, nos relatórios do governo, graças
à famigerada contabilidade criativa, conhecida e tratada como tema de piada
dentro e fora do País. Talvez a presidente seja pouco informada sobre esses
detalhes. Ou talvez considere os comentários sobre o assunto meras
demonstrações de má vontade e de pessimismo “adversativo”. Expressões como essa
indicam formas peculiares de perceber e de avaliar o mundo.
A dívida bruta do setor público
é também um claro indicador de uma política fiscal perigosa. Pelos cálculos do
Fundo Monetário Internacional, a dívida pública brasileira está na faixa de 68%
do Produto Interno Bruto (PIB), quase o dobro da média dos emergentes, em torno
de 35%. Pelas contas oficiais brasileiras, a proporção é da ordem de 58% do
PIB. Por qualquer critério, a situação é menos segura que a dos países da mesma
categoria econômica.
Somados os principais
componentes do quadro, o Brasil apresenta inflação mais alta, endividamento
público maior e crescimento econômico menor que aqueles apresentados por muitos
países emergentes e em desenvolvimento.
Mas o Brasil será em 2013 um
dos poucos países com crescimento maior que o do ano anterior, disse ontem o
secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland. Com
essa contribuição, o discurso oficial fica ainda mais engraçado. O secretário
parece haver esquecido de um detalhe: no ano passado o PIB brasileiro cresceu
0,9%, depois de ter aumentado apenas 2,7% em 2011.
A presidente mencionou também
as reservas internacionais, superiores a US$ 270 bilhões. Esqueceu de citar a
deterioração das contas externas, com o saldo comercial próximo de zero e o
déficit em conta corrente a caminho de US$ 75 bilhões – efeitos de um acúmulo
de erros econômicos e diplomáticos.
Na terça-feira, a presidente
declarou-se pouco interessada em eleições e dedicada só a governar. Mas suas
atividades na terça e na quarta-feira, incluída a entrega de casas populares
sem luz e sem água, são explicáveis só como esforços eleitoreiros. Em campanha
constante, ela converteu o marketing político em plano de governo.
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