Autores:
Cidadão Araçatuba e Pimenta e Poesia.
Várias
transformações aconteceram em nossa sociedade, desde quando aprendemos a andar
eretos, a utilizar do fogo criamos máquinas que transformam o calor em movimento,força.
A
raça humana sempre procurou aliar o útil ao agradável, afinal fazer força para
quê? Estamos vivenciando um desenvolvimento muito maior do que a idade moderna
viu. Doenças se extinguiram, outras apareceram, mas as mentes brilhantes estão
aí! Descobrindo a cada dia uma nova possibilidade.
Chegamos
num estágio tão avançado, que a nossa sociedade sofre em parte com todas essas
facilidades.
Encontramos
hoje uma sociedade obesa, consumista, com muita informação disponível, mas carente
de senso crítico para não deturpar a
enxurrada de novidades e conhecimentos úteis e inúteis. Seja na TV, no rádio,
na internet.
Desenvolvemos
novas doenças que somatizam-se.Tranformam-se em outras e para as últimas, que
atualmente são conhecidas como “doenças da alma”, (segundo os religiosos), Jesus cura!
Séculos
e séculos de desenvolvimento de coisas boas, que nós seres humanos ao final da
nossa caminhada terrestre deixamos de presente para as futuras gerações.
Deixamos coisas ruins também, mas essas... deixa pra lá!
Resolvi
falar de tudo isso nessa introdução porque sei que toda ação gera uma reação
igual e contrária.
Ela
está falha e resumida, talvez tenha sido essa a minha intenção, quem sabe? Afinal
novos capítulos são por nós escritos e o que é irrefutável hoje, amanhã poderá
ser uma tremenda mentira. Tenho visto nas minhas “zapeadas televisivas” grávidas
desengravidarem-se de um programa para o outro. O que mais podemos esperar
nesse circo de horrores que é a nossa televisão formadora de opinião nesse
nosso Brasil?
Esse
desenvolvimento criou ao meu ver uma liberdade que fez com que nós, em algum momento, perdessemos a estrada, o rumo, levou-nos por caminhos tortuosos e neles
ficamos perdidos nessa grande selva chamada sociedade.
Criar
os filhos? Pensar na carreira? Viver o (um) romance? Viver ou conviver? Essa é
a grande questão.
Podemos
juntos homem e mulher, enquanto casal, esforçar-nos para comprar uma bela casa,
um belo carro, mas... e viver a dois?
Férias
na praia, boa escola aos filhos e onde fica o casal? Comprazem-se em
“encaminhar” os filhos?
Rugas,
celulites, óculos, doenças, remédios, limitações...e a vida? Se esvazia...
O ser humano começa com uma união, não discuto aqui a forma, pode ser ela: casual, estável, científica (fertilizações) e termina só. Às vezes na pior solidão, que é aquela em que se vive acompanhado.
Como
então poderíamos configurar o “moderno” casamento? Aquela velha forma de unir
macho e fêmea em uma só carne, sob o mesmo teto e com o fim comum e predefinido
pela nossa igreja que seria a reprodução, já faliu?
Como
ficam então as relações “santificadas” e depois registradas em cartório frente
a toda essa modernidade? São contratos? Como poderíamos definir o casamento
hoje em dia? Porque tem durado cada vez menos? Porque cada vez mais as pessoas
se desiludem com essa que é uma das mais antigas instituições humanas?
Penso
que o casamento obrigatoriamente tem que ser fundamentado por uma ligação
profunda, sentimental e que obrigatoriamente deve ser benéfica aos dois, em
todos os sentidos.
Como
podem então, duas pessoas estarem ligadas uma a outra sem os requisitos que
citei?
Como
posso amar alguém sabendo que essa pessoa está “presa” a mim e o encanto, o
respeito, o carinho, a compreensão, o companheirismo e o amor não existem mais!
Ocorre
que o casamento é uma instituição bíblica, não no sentido de doutrina, mas em
uma perspectiva teológica. A ideologia de um Deus que a tudo criou e tudo rege.
Assim, homem e mulher biblicamente representados por Adão e Eva, seriam a
síntese do casal, o mito, a exigência de ligação perpétua entre um homem e sua
mulher. E milênios depois, o mito ainda permanece no inconsciente coletivo de
bilhões de casais que acreditam que o casamento é a via plena da felicidade
eterna.
Rubem
Alves afirma, com toda a sua vasta experiência, não só como psicanalista, como
também pastor protestante que foi, que FELICIDADE é uma coisa muito grande...e
que ela não existe, mas sim, FELICIDADES, ou seja, momentos agradáveis e
prazerosos em que tudo parece estar bem, em completa harmonia. Vale lembrar que
Rubem não teve vida longa como pastor, não suportou as camisas de força
dogmáticas, não suportaram a grandeza, a inteireza do pensamento dele.
Normal...a história está cheia de casos de intolerância e pessoas à frente de
seu tempo, incapazes de se subjulgarem a um confinamento de ideias.
E
o mesmo Rubem, em entrevista no Programa “Provocações”, apresentado pelo grande
ator da dramaturgia brasileira, Antônio Abujanra, ao ser questionado sobre o
Amor, poetizou, parodiando a canção de Vinícius: “Ah, o amor é a coisa mais
triste quando se desfaz...”.
Assim,
o casamento é um acordo entre cegos de
um castelo enorme, cujo pacto de amor eterno mantém, ou pelo menos tenta manter,
os portões trancados e as chaves escondidas. E o casal jura o injurável: sim,
vou te amar até a morte, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença (até
que a morte nos separe...). Assim, inicia-se o banquete nupcial, em que marido
e mulher comerão gigantescos saleiros ao longo de décadas e alguma sobremesa de
vez em quando, que é para adoçar a noite.
Casar
é fácil, difícil é desejar todo dia o mesmo homem, a mesma mulher. Casar está,
para os leigos, como o celibato para os religiosos: um aprisionamento de
sentidos, um contrato de letras minúsculas assinado no escuro. Polêmico?
Talvez...mas há que se refletir sobre a instituição que confere aos sentimentos
um caráter atemporal que nenhum sentimento pode conter, porque simplesmente não
é algo que possa caber dentro de uma caixa, uma redoma, uma gaiola, mesmo que
seja uma gaiola dourada laureada de flores de lis.
“E foi assim que eu vi
nosso amor na poeira...poeira ...morto na beleza fria de Maria/ e o meu jardim
da vida/ ressecou...morreu.../no pé que brotou Maria/ nem margarida nasceu...” (Flor de Lis – Djavan)
Nunca
se casou tanto, nunca se descasou também. A indústria do casamento movimenta
hoje um mercado altamento próspero e lucrativo: as cerimônias e festejos estão
cada vez mais teatrais e gasta-se muito – e o que ás vezes nem se tem, para
mostrar à sociedade elitista e hipócrita: “Vejam como nos amamos, vejam como
somos lindos e elegantes, vejam como estamos acreditando que isso aqui vai
durar até que a morte chegue e nos liberte de nossas amarras...”
É
triste, é constrangedor ver o quanto as pessoas ainda se casam iludidas e
despreparadas, por mais tempo de namoro e convivência que tenham tido. Por que
o encanto inicial desaparece? Por que a paixão dá lugar ao tédio? Maldade,
crueldade humana? Pobres deles, pobres de nós...o encanto e a paixão não
suportam o peso inoxidável da rotina, só isso. Rotina é o problema, por mais
que haja receitinhas de felicidade nas revistas e programas de TV femininos,
não há encanto que suporte a chatisse de pagar as contas e manter a casa e a
família, de ouvir toda noite o ronco um do outro, de dividir as alegrias e os
dissabores da educação dos filhos, de se preocupar se o salário de ambos vai
cobrir as despesas mensais ou Valei-me , cheque-especial! Não há encanto que
resista a duas escovas de dentes juntas na pia, anos e anos, sem férias, sem
recessos, sem trégua para que cada um possa pensar em si mesmo, nos seus
próprios sonhos e necessidades, nem sempre compreendidas pelo parceiro.
Junta-se as escovas de dentes, mas juntar sonhos e compactá-los num mesmo
recipiente é coisa muito...muito difícil.
No
entanto, uma coisa é certa: o casamento é um assumir de emoções e
responsabilidades, um assume o outro, com todas as demandas passadas, as atuais
e aquelas que virão com o tempo. Isso talvez explique parcialmente porque
tantos casais, embora desencantados, permanecem juntos até a morte: por amor e
responsabilidade, gratidão e zelo pela pessoa do outro. Isso é tão, mas tão
certo como dois e dois são quatro...tão antigo quanto andar pra frente. E não
vai mudar e nem tem que mudar. Apenas uma coisa precisa ser revisitada: os
conceitos de afeto, sexualidade, paixão, amor e... casamento. E o
questionamento interno quanto ao tamanho do sonho e da satisfação de cada um.
Casar
é prosa, amor e sexo é poesia. (Com sua licença, Jabor...rs)
7 comentários:
Passei pra ler você (lendo desde 2010...). Tão bom...abração!
Li no mural de minha filha uma frase, que ela extraiu do filme Como se fosse a Primeira Vez, e que aqui reescrevo:
"Um verdadeiro homem não é aquele que conquista várias mulheres num dia. E, sim, a mesma mulher todas os dias."
Acho que casamento é isso. Para que a rotina não destrua o bom relacionamento e a amizade entre o casal (necessária para a convivência diária), a conquista deve ser uma constante.
A tolerância é primordial, certamente.
Um bom tema para reflexão.
Parabéns à dupla de escritores. Mais uma ótima contribuição!
Meu afetuoso abraço,
Yolanda
Bom texto para reflexão.
Eu penso que atualmente o casamento dura menos porque, afora o tão propalado individualismo, as mulheres têm mais consciência do que em tempos passados. Porque são as mulheres,geralmente, que pedem a separação (há estatísticas notariais a respeito).
Já sofri a pior solidão que é a solidão a dois, portanto me é difícil acreditar no casamento como instituição. Como sou muito independente acho muito melhor e provavelmente muito mais duradoura a relação a dois onde cada um vive na própria casa. Exclui todas aquelas chatices que o texto menciona
Mas jamais, jamais desestimulo alguém a casar. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato e escolhas são coisas muito pessoais.
Achei interessante texto à duas mãos. Como é que vocês conseguem? rsrs
Abraços e parabéns aos dois
Querida Maria Tereza você é suspeita... rs
Abração!
Amiga Yolanda para variar você está certíssima!As pessoas se esquecem disso. O amor é uma constante. Mas que a instituição "Casamento" mudou muito, isso é inegável! Obrigado pelos elogios e agradeço a sua participação aqui!
Abração!
Olá Atena tudo bem?
Respondendo sobre o texto a duas mãos, acho que temos uma química. Maria Tereza consegue adornar os meus pensamentos, mas de forma nenhuma ele "deixa de ser ela". Como já disse: Mineira porreta!
Obrigado pela visita! Abração!
Eu sou suspeita mesmo: adoro você. Mas como você disse (e amei isso...), nunca deixo de ser eu mesma. Meu amigo querido, meu parceirão de escrita e vida:pera ai...vou ai te dar um abraço de urso! kkkkk
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