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As dificuldades de realizar tal
  exercício para 2013 são muitas, começando por entender a situação da economia
  do País no final de 2012, com a surpreendente combinação de desaceleração do
  crescimento do PIB, inflação acima do centro da meta e um mercado de trabalho
  com indícios de plena ocupação. Esse cenário indigesto não fazia parte das
  previsões para este ano, realizadas há um ano pelos analistas do setor
  privado, do setor público e do mundo acadêmico. 
   
  Parece haver relativo consenso de que o desempenho recente da economia foi
  determinado por fatores ligados à demanda agregada. O mais significativo
  componente para explicar o crescimento do PIB parece ter sido a expansão do
  consumo das famílias e dos indivíduos, movido pelo incremento do emprego, da
  renda e,sobretudo, o notável crescimento do crédito bancário (grifo meu). Mas tal ciclo
  de expansão esbarra em limites definidos, seja do lado da demanda de crédito,
  pelo comprometimento da renda familiar com encargos do endividamento, seja
  pelo lado da oferta, pelo aumento da taxa de inadimplência sobretudo entre
  novos tomadores de empréstimos. Não se pode esperar, pois, a repetição do
  movimento de consumo movido a crédito para 2013. 
   
  O componente demanda do setor público enfrenta restrições ligadas à
  necessidade de geração de superávit primário. Do lado externo, pesam sobre a
  economia global três incógnitas interdependentes: a resolução do “abismo
  fiscal” dos EUA, a crise da dívida soberana na região da Eurolândia e o
  desempenho da economia chinesa. É difícil, pois, esperar um desempenho
  robusto da economia internacional em 2013. Por último, a taxa de investimento
  se reduziu nos últimos períodos. Assim, não é provável que a demanda agregada
  contribua para o crescimento em 2013. 
   
  Entre as opiniões convergentes sobre os desafios imediatos está a necessidade
  de abordar problemas que têm se acumulado do lado da oferta agregada.
  Especialmente saliente e não independente é a necessidade de promover as
  reformas e aumentar o nível de investimentos. Quanto ao último ponto, há pelo
  menos quatro aspectos ligados ao setor público que não têm contribuído para
  fazê-los deslanchar. O governo tem se atrapalhado em seu próprio jogo. 
   
  São quatro tons de cinza: 1) qualidade da gestão dos empreendimentos do PAC;
  2) desenho dos processos de concessão/privatização; 3) independência e
  qualidade das agências reguladoras; e 4) natureza distorciva dos recursos
  oriundos do BNDES. Nos quatro casos, o governo conspira contra os desejados
  investimentos, em geral, e contra os em infraestrutura, especificamente. 
   
  O primeiro tom de cinza vem desde os tempos de Lula, quando Dilma foi ungida
  a mãe do PAC. No novo governo, a presidente tornou-a principal meta do
  Ministério do Planejamento. Ainda assim, problemas de implantação e gestão,
  basicamente associados à máquina pública, impedem o programa de deslanchar,
  mesmo após cinco anos e duas fases. Em parte, por reconhecer limitações de
  gestão, o governo decidiu abrir à iniciativa privada investimentos em
  infraestrutura. 
   
  A estreia com os aeroportos não foi encorajadora e o próprio governo
  reconhece que o desenho do processo causou seleção adversa: trouxe
  concessionários nem sempre entre os mais desejáveis. A nova fase deconcessões
  (portos,ferrovias) até agora não augura resultados auspiciosos. Problemas de
  desenho nas concessões ainda afugentam investidores desejáveis. Muito se
  debateu a interferência do Executivo nas agências reguladoras, que deveriam
  ser instrumentos de Estado, independentes de governos. Isso estaria
  conspirando para afugentar potenciais investimentos em infraestrutura. 
   
  Recentes episódios de indicação de gestores não qualificados para agências
  certamente não ajudaram a solucionar o problema apenas somaram ingerência
  indevida à desqualificação e corrupção no coração das agências. Tom cinza
  pesado. (grifo meu)
   
  Por fim, há um problema de financiamento associado aos investimentos. A fonte
  generosa de recursos do BNDES tem sido, nos últimos anos, o Tesouro. O
  repasse oculta subsídios, diminuindo a transparência e a credibilidade da
  política fiscal. Não ajuda que pareça uma manifestação macroeconômica do
  efeito de contabilidade mental estudado em economia comportamental. 
   
  Os quatro problemas são originados de escolhas governamentais que,
  possivelmente, poderiam ser alteradas com certa facilidade. Nada impede que o
  governo mude a qualidade da gestão (se aceitar terceirizá-la em parte). Nada
  obsta o desenho de processos de concessão que evitem seleção adversa e, pois,
  atraiam interessados mais qualificados. Nada bloqueia a busca e indicação de
  gestores qualificados e independentes para as agências reguladoras. E nada
  torna impossível a mudança das fontes de financiamento do BNDES. A paleta de
  investimentos pode ser menos monocromática e o futuro, mais brilhante. 
   
  Alkimar R. Moura e Antonio C. Manfredini Oliveira São Professores da
  Eaesp/FGV 
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