Print Friendly and PDF

Inscreva-se !

Coloque seu e-mail aqui!:

Entregue por:FeedBurner/Cidadão Araçatuba

17 de mar. de 2013

A Múmia.



Imagem retirada da internet, link aqui,

Um verdadeiro "peteleco" a falta de bom senso de alguns. Espero que nem todos os Venezuelanos sejam, pensem e ajam como o falecido presidente. Vale a pena ler!

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUINTA-FEIRA

Retirado do link: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/a-mumia-a-critica-e-a-revolucao-por-demetrio-magnoli/

DEMÉTRIO MAGNOLI

Segundo assessores, Lula e Dilma Rousseff interpretaram a decisão de embalsamar o cadáver de Hugo Chávez como, essencialmente, uma estratégia eleitoral. Eles olham para outro lado, evitando confrontar a incômoda realidade que, cedo ou tarde, assombrará o Brasil. A múmia em Caracas é o indício inconfundível de uma regressão histórica da esquerda latino-americana e, além disso, um sinal agourento de que os sucessores do caudilho não pouparão a Venezuela do trauma da implantação de uma “ditadura bolivariana”.
A mumificação deliberada expressa uma exaltação do desejo de permanência. No antigo Egito, o corpo do morto devia ser embalsamado para que ele vivesse eternamente, a fim de conhecer Osíris, a divindade da vida após a morte. Na política laica contemporânea, a prática tem um sentido radicalmente diferente, pois não se destina a promover um interesse do morto, mas a exercer influência sobre os vivos. O morto deve ser eternizado a fim de aprisionar o presente na jaula do passado, impedindo que a vida siga adiante.
“O corpo do presidente Chávez será embalsamado como Lenin e Mao”, anunciou Nicolás Maduro, o sucessor designado. Nada indica que Vladimir Lenin desejasse ser convertido em múmia e Mao Tsé-tung deixou assinada uma ordem para sua cremação. Os dois líderes revolucionários consagraram-se ao empreendimento intelectual de embalsamar o pensamento de Karl Marx, mas, justamente por isso, rejeitavam a ideia de que, um dia, eles mesmos viessem a ser circundados pelo halo do sagrado. Ao contrariar a vontade derradeira dos líderes mortos, enquanto juravam fidelidade imorredoura a seus ensinamentos, os sucessores inseguros almejavam congelar a vida política, perenizando-se no poder.
Crítica da economia política é o subtítulo de O capital. A palavra “crítica” permeia os textos de Marx. O suposto inspirador dos líderes mumificados no Kremlin e na Praça da Paz Celestial inscreve-se na linhagem do pensamento iluminista: a “crítica”, em Marx, é um movimento racional de recepção, interpretação e superação da tradição intelectual. O estabelecimento de uma “verdade marxista” e sua calcificação como doutrina oficial representam a negação do núcleo do pensamento “marxista”. O mausoléu de Lenin, uma construção em granito reminiscente da tumba do imperador Ciro II, e o de Mao, com sua fachada em colunas neoclássicas, são símbolos apropriados de regimes bárbaros, apoiados sobre a bengala da violência política sem freios e devotados à supressão extensiva da crítica.

Marx não foi, contudo, exclusivamente um pensador. Existe um outro Marx, o doutrinário comunista, cujas ideias podem funcionar como fonte de legitimação da barbárie totalitária. “Os filósofos se limitaram até hoje a interpretar o mundo; cabe transformá-lo” ─ a última das Teses sobre Feuerbach proclama, no fim das contas, que a revolução social é o critério definitivo a respeito da verdade. A frase célebre foi eternizada na parede de mármore do saguão da Universidade Humboldt, em Berlim, pelos dirigentes da antiga Alemanha Oriental. Eles estavam dizendo que o poder estatal comunista era a culminância da filosofia, a estação final do pensamento humano. A reverência absoluta diante da verdade oficial: eis a exigência simbolizada na mumificação de Lenin, Mao e, agora, Chávez.

Nas democracias, por definição, os estadistas são pessoas comuns, sujeitas ao acerto e ao erro, cuja legitimidade deriva de uma vontade popular circunstancial. Na Venezuela, o culto a Chávez atinge um paroxismo, expresso no novo qualificativo que começou a circular durante o velório: no lugar do “Comandante”, surge o “Líder Supremo da Revolução Bolivariana”. A Venezuela já não é uma democracia, mas ainda não se fechou atrás da muralha de uma ditadura. A iniciativa de embalsamar o líder morto constitui um passo simbólico de largas proporções no rumo ditatorial. Por meio dela se materializa na forma de uma múmia a declaração recorrente dos chefes chavistas, que identificam a nação à sua própria corrente política. Chávez não é Chávez, mas Simón Bolívar, ou seja, a nação inteira: isso é o que, de fato, dizem os herdeiros mumificadores.
Em Cuba, o culto a Fidel Castro realiza-se indiretamente, pelos cultos oficiais paralelos a José Martí e Che Guevara. “Ser como o Che”, ensina-se aos cubanos desde os bancos escolares, significa curvar-se à verdade do Partido. Na Venezuela, como sinal eloquente de que não há uma novidade genuína no “socialismo do século 21″, a exigência de “ser como Chávez” já faz parte da linguagem política utilizada pelos herdeiros do caudilho. Esse tipo de linguagem, porém, não pode prosperar no ambiente da democracia, que é o da crítica e da dissensão: a múmia de Chávez e as liberdades públicas são termos alternativos na equação do futuro venezuelano.
A esquerda europeia aprendeu o valor da liberdade numa longa trajetória pontuada pela Revolução Russa, pelo stalinismo, pelas invasões soviéticas da Hungria e da Checoslováquia e pelas revoluções democráticas de 1989. A esquerda latino-americana não viveu tais experiências definidoras, apenas ouviu seus ecos distantes. De certo modo, a Revolução Cubana e o mito de Che Guevara forneceram-lhe uma casamata ideológica, isolando-a da crise histórica e moral que lançou uma luz esclarecedora sobre as múmias de Lenin e Mao. Tomada no interior dessa casamata, a decisão de embalsamar o corpo de Chávez entrelaça a sorte da esquerda autoritária na América Latina à de um regime bolivariano em declínio, que só pode oferecer a sombria perspectiva de uma ditadura terceiro-mundista.
Antes de significar um salto ousado rumo ao futuro, revolução designava apenas o movimento cíclico de eterno retorno dos astros. A mumificação dos “líderes supremos” restaura o significado original da palavra, anulando as suas associações com a crítica, a ruptura e a renovação.

4 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

Sei não mas acho o que acontece ora na Venezuela, ora em Cuba nao significa um movimento organizado e sim isolado . Com a morte dessa gente morre as porcarias que fazem e dizem. Um Simom Bolivar aparece um em cada séwculo ou mais.Nem o Che, hoje, caiu de moda.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Parabéns pelo blog, muito bom. E agradecido pela visita ao Consoantes Reticentes. Abraços e sucesso.

Cidadão Araçatuba disse...

A revolução é outra hoje. Com uma simples "canetada" paises desaparecem. Chávez, Fidel, e demais "caudilhos" não são mais nada além de ex-guerrilheiros, ex-combatentes, ex-lideres. Apenas EX! O povo de lá ainda não acordou. E diria mais, o daqui também não, afinal vira e mexe estão querendo elevar a categoria de salvador da pátria o Lulalá. Abração Zé!

Cidadão Araçatuba disse...

Olá Marcelo tudo beleza? O seu também é muito legal. Obrigado pela visita! Abraço.

Postar um comentário

Comente, discuta, reflita, sua opinião é muito importante!.

Blogueiros unidos participam e divulgam!

Blogueiros do Brasil
Cia dos Blogueiros

Clique, conheça nossa história.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Seguidores diHITT

Seguidores

Leve o Cidadão com você!


Total de visualizações desta página.

Plágio é crime! Quer copiar? Não custa nada pedir, obrigado!

IBSN: Internet Blog Serial Number 21-08-1966-11